É impossível contar a história do carnaval paulistano sem falar da Lavapés, a mais antiga Escola de Samba em atividade na capital. Foi fundada em 1937, entre os bairros da Liberdade e do Cambuci, exatamente na rua que deu nome à agremiação. Homenagear essa data foi uma iniciativa do vereador Paulo Frange (PTB) que realizou sessão solene especial, a pedido da diretoria da Escola, Rosimeire Marcondes, em 26/10/17, no Salão Nobre da Câmara Municipal.
Entre os responsáveis pela criação da Lavapés estão Madrinha Eunice, o marido Chico Pinga e o irmão Zé da Caixa, já falecidos. A presidente atual contou que os três ao visitar o Rio de Janeiro, ficaram completamente encantados com o Carnaval carioca, à época ainda realizado na saudosa Praça Onze – e para trazer aquele formato pra São Paulo bastou um ano.
Mestre Tadeu, um dos 41 afilhados da Madrinha Eunice, hoje comanda a bateria da Vai-Vai, mas não se esquece de onde tudo começou: “Sou oriundo da Lavapés e nasci dentro daquela quadra. Minha mãe era da ala das baianas e sou filho de sambistas de berço. As pessoas acabam se esquecendo, mas ninguém apaga essa história. E naquela época, ainda sob o regime militar, quem saía em Escola de Samba era considerado subversivo. A gente era marginalizado e apanhava da polícia. Foram tempos difíceis” – declarou à TV Câmara..
Os integrantes mais antigos contam que as dificuldades iam além do cenário político mencionado pelo Mestre Tadeu, e sempre fizeram parte da biografia da Lavapés. Como diz a neta de criação da Madrinha fundadora e atual presidente da agremiação “Já são oito décadas de glórias e tristezas”.
Rosemeire Marcondes se referiu à perda da quadra onde as atividades e os ensaios eram realizados, o que fez a escola despencar ainda mais. Depois de já ter sido uma das mais vitoriosas nos desfiles paulistanos, a Lavapés vai disputar o acesso ao Grupo 3 em 2018. Ela acredita, no entanto, que a escola tem o mesmo espírito de sua avó, projetando uma nova volta por cima.
“Minha madrinha era uma mulher negra, nascida em Piracicaba e que cuidava dos seus próprios negócios. E para ela não existiam barreiras, ia sempre à luta. Essa energia passou para nós. Vamos dizer que estamos saindo do hospital e recomeçando de novo. Estamos sempre nos superando”, disse.
SEU CARLÃO, UMA REFERÊNCIA
Carlos Alberto Caetano, o Seu Carlão da Peruche, ficou na Lavapés desde o início até 1955. Para ele, resgatar a agremiação é reconhecer todas as Escolas de Samba de São Paulo: - “Muitos saíram da Lavapés. Dela nasceram muitas escolas. Então, ela tem um grande significado para o samba paulista e ainda carrega muito da origem da nossa cultura. O samba dela foi um verdadeiro embrião”.
Carlão, um dos nomes mais reconhecidos do carnaval paulistano, aproveitou para sugerir um ato simbólico de reconhecimento à sua primeira escola: “E eu gostaria que a Lavapés viesse ‘hors concours’, abrindo os desfiles, como forma de homenagem. Gostaria muito de ver esse reconhecimento”.
O vereador Paulo Frange (PTB), proponente do evento na Câmara, disse que tem a intenção de apoiar o resgate da Lavapés como forma de devolver um bem cultural para a cidade: “É uma escola que está bem pertinho da Câmara e que desde 1937 se destacou. Ela tinha 20 títulos quando o prefeito Faria Lima oficializou o Carnaval. Além de toda a história do batuque e dos tambores de Pirapora. Enfim, tudo passou pela Lavapés...”
Frange diz ainda: “Queremos resgatar isso. E mais: resgatar a participação das atividades da escola junto à comunidade. Trazer de volta essa atividade cultural aqui para o Centro, para gerar recursos e empregos, e devolver isso para a própria sociedade”, afirmou o parlamentar.
HOMENAGEADOS DA NOITE:
Jorge Lucio Soares – orientador religioso da Lavapés
Sergio Moretti – empresário
Suely Escalambrini (Babita) – integrante
Walter Taverna – carnavalesco
Leila da Silva Mesquita- integrante
Antônio Hélio do Rosário – colaborador
Renato Dias – músico
Fernando Toshio Mastsuda – empresário
Aurora Gabriel – integrante
Edilza Serafim – empresária
Jamil Jorge – colaborador
Osmar Araújo Dias – carnavalesco
Renato Remondini Rodrigues – carnavalesco
Antônio Carlos Tadeu de Souza (Mestre Tadeu) – carnavalesco
Alberto Caetano – carnavalesco
Carlos Alberto Rosa (Pelé Problema) – produtor cultural
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Ref. do texto: Douglas Matos/ TV Câmara/Portal.
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